50 Anos de Venus and Mars: O Wings no Ápice da Confiança
Um disco que orbitou entre Vênus e Marte, mas encontrou seu lugar no coração do rock dos anos 70.
Após a consagração global de Band on the Run, a pergunta era inevitável: o que Paul McCartney faria a seguir? A resposta chegou em 27 de maio de 1975 com Venus and Mars, o quarto álbum de estúdio dos Wings. Lançado mundialmente pela Capitol Records, o primeiro de McCartney fora da Apple, o disco deu continuidade ao sucesso avassalador do grupo, servindo como plataforma para uma ambiciosa turnê mundial de um ano.
Sua icônica capa, fotografada por Linda McCartney, traduzia visualmente o conceito: duas bolas de bilhar, uma amarela e outra vermelha, representando os planetas Vênus e Marte sobre um fundo preto. Segundo Paul, a ideia era criar "um disco que fosse legal de pegar, e também algo reconhecível".
No entanto, é impossível analisar Venus and Mars sem a sombra de seu antecessor. Se Band on the Run foi o álbum que estabeleceu um modelo de sucesso para os Wings, com canções pop vigorosas, comerciais e brilhantes que não soavam como os Beatles, seu sucessor foi um eco deliberado dessa fórmula. Para muitos, seu único "defeito" era justamente não ser Band on the Run.
As semelhanças estruturais são evidentes. Ambos começam com a faixa-título como uma declaração de intenções e depois a reprisam, numa provável referência a Sgt. Pepper's. A fórmula se repete com singles potentes guiados por guitarra ("Letting Go" espelhando "Jet"), baladas elegantes ("Love in Song" como sucessora de "Bluebird") e experimentações lúdicas ("Magneto and Titanium Man" herdando o espírito excêntrico de "Helen Wheels").
Essa grandiosidade era intencional. A sonoridade caseira de McCartney e Wild Life ou a intimidade de Ram foram abandonadas. Em meados dos anos 1970, os Wings eram uma banda projetada para arenas, mirando nas rádios FM americanas. McCartney, seguindo o modelo da trilha sonora de "Live and Let Die", criou um som expansivo, com arranjos complexos e ganchos feitos para estádios. Afinal, menos de seis meses depois, a turnê Wings Over the World os transformaria em uma das maiores atrações do planeta.
Havia também um novo Wings: o núcleo de Paul e Linda McCartney com Denny Laine expandiu-se para incluir o guitarrista Jimmy McCulloch e o baterista Geoff Britton (posteriormente substituído por Joe English). Com a adição de uma seção de metais ao vivo, a banda soava mais potente do que nunca, um reflexo da confiança que McCartney recuperara após os anos turbulentos do pós-Beatles, quando críticos e ex-companheiros duvidavam de seu futuro.
Eclético como era seu costume, Venus and Mars mescla rock ("Rock Show", "Medicine Jar"), baladas soulful ("Call Me Back Again"), pop impecável ("Listen to What the Man Said") e até vaudeville ("You Gave Me the Answer"). Essa diversidade, porém, também rendeu críticas: em uma era dominada por Led Zeppelin e Pink Floyd, a leveza de McCartney era muitas vezes taxada de "superficial". O que os detratores ignoravam era a maestria por trás da aparente simplicidade, como em "Magneto and Titanium Man", onde o fascínio de Paul por quadrinhos se transforma em uma jam delirante, ou em "Spirits of Ancient Egypt", com seus arranjos intricados e harmonias hipnóticas.
Venus and Mars pode não ter superado o legado de Band on the Run, mas consolidou os Wings como uma força dominante nos anos 1970, provando que Paul McCartney não dependia de comparações com os Beatles para brilhar. Com sua mistura de rock arenoso, baladas delicadas e pop radiofônico, o álbum capturou a essência de uma banda no auge de sua confiança criativa e ambição comercial. Mais do que um simples sucessor, foi a afirmação de que McCartney e os Wings tinham chegado para ficar, não como sombra do passado, mas como farol de uma nova era.
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